“Contos Exemplares”, uma coletânea representada por 7 alegorias

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Contos Exemplares, contes exemplaires
Pixabay.com

As sete histórias apresentadas na coletânea chamada Contos Exemplares de Sophia de Melo Breyner Andresen têm por trás delas uma moral que pode servir de exemplo na vida. Assim, através de um estilo de escrita especial e muito rico representado por enumerações, descrições amplas da natureza que podem assemelhar-se a um lirismo quase idílico, entrelaçadas com elementos fantásticos e mágicos, são abordadas diferentes temas como a pobreza, a infelicidade, a diferença das classes sociais, a ligação entre passado-presente-futuro, a luta entre bem e mal e a busca da identidade.

Vamos conhecer algumas obras dentro de Contos Exemplares!

Alegoria da pobreza e sofrimento

O Jantar do Bispo

No primeiro conto da coleção Contos Exemplares, O Jantar do Bispo, os leitores são apresentados ao dono de uma enorme propriedade. Ele quer livrar-se do novo padre da paróquia, que fala sobre a miséria dos pobres porque trabalham o dia todo por salários escassos. Para atingir o seu objetivo, ele conta com o bispo para o apoiar. Por meio de uma prosa convincente, esta história aborda questões de pobreza, direitos dos trabalhadores, liberdade, democracia e hipocrisia de alguns membros da Igreja Católica.

A pobreza e o sofrimento são, de fato, temas recorrentes nesta coletânea. Eles estão claramente presentes em O Homem, Homero, mas também em Os Três Reis do Oriente.

O Homem

O conto O Homem é uma alegoria do sofrimento e da pobreza humana, que mostra também a diferença entre o céu e a terra, entre o silêncio de Deus e o movimento e indiferença das pessoas na cidade. Desta forma, os leitores podem observar a relação antitética entre o céu, que era mergulhado num silêncio profundo representado por uma repetição metafórica o céu eram planícies e planícies de silêncio, e a terra, nomeadamente a cidade em que a multidão não parava de passar.

Essa dualidade revela uma das principais características da vida, o seu dinamismo e a efemeridade do tempo, representado nesse conto por um relógio – um relógio bateu horas, mostrando que nunca para, sempre bate numa só direção e nunca podemos voltar ao passado.

Além disso, esta história da coletânea Contos Exemplares é caracterizada por um movimento circular que revela a luta interna do narrador com uma força externa, uma força que ele não pode controlar. Portanto, podemos observar que o narrador, depois de ver o pobre homem que levava uma criança ao colo, declara que se deixa levada pela multidão, embora esteja profundamente impressionada com a imagem do homem – “levada pelo movimento da cidade, passei a sua frente”.

Lutando contra a indecisão, ela para, significando que certos sentimentos de compaixão surgiram, ao contrário do resto das pessoas que continuam andando com pressa e indiferentes – “eu estava parada no meio do passeio, contra o sentido da multidão”. No entanto, essa simetria narrativa termina com a escolha da narradora de se deixar levada pela multidão de novo, de não se desviar do caminho principal, continuando a sua vida sem compromisso “eu fiquei no meio do passeio, caminhando para a frente, levada pelo movimento da cidade”.

Também, no retrato do homem são destacadas todas as características que levam à pobreza e ao sofrimento, como as roupas ruins, a miséria, o abandono, a solidão que estavam inscritos no seu rosto, o corpo comido pela fome, a aparência descuidada.

Uma semelhança ao outro conto de Contos Exemplares, Praia, consiste no sentimento de resignação, mencionado nos dois. Por conseguinte, em Homem, e expressão do pobre é descrito como sendo dominada de resignação, espanto e pergunta. De maneira semelhante, em Praia, na descrição dos músicos é dada a definição do sentimento de resignação: o falhar completo e sem remédio, o abandono completo de qualquer razão de existir.

Esses Contos Exemplares são cheios da alegoria da natureza e da relação do homem com ela

Homero

Em Homero, além da alegoria da pobreza, está apresentada também uma alegoria da natureza e da relação do homem com ela. O protagonista de um dos sete Contos Exemplares, Búzio, era um velho louco e vagabundo, mas a característica que o diferenciava dos pobres que apareciam aos sábados por pedir esmola e que deles se tinha pena, mas de Búzio não.

Desde as primeiras palavras, está introduzido o tempo da narrativa: a infância do narrador – quando eu era pequena, e o uso do pretérito imperfeito, que tem caráter evocativo.

Essa evocação de infância e também o retrato do Búzio são assim construídos através de comparações que fortalecem a conexão desse homem com o mar, comparações que descrevem uma imagem maravilhosa da natureza e que sugere, ao mesmo tempo, o caráter livre e não convencional do Búzio, a liberdade dele mesmo: a barba como uma onda de espuma, o corpo que parecia um mastro, o andar baloiçado como o andar dum marinheiro, os olhos como o mar.

Alegoria da procura da verdade

Os Três Reis do Oriente

Os Três Reis do Oriente faz também parte da coletânea Contos Exemplares. É constituído por três histórias, tendo como protagonistas os reis Gaspar, Melchior e Baltasar. Eles seguiram a estrela do Oriente para ir à procura da verdade, renunciando aos  dois ídolos, da sabedoria e da riqueza. Ao mesmo tempo, eles estavam a procurar um deus melhor, um que não proteja apenas os ricos, mas os oprimidos também.

Alegoria de vida

A Viagem

A Viagem é, na minha opinião, o conto mais bonito e impressivo da coleção Contos Exemplares. É uma alegoria de vida, sendo apresentada uma história em que um casal tenta chegar a um destino que é visto como um lugar perfeito, maravilhoso, um ideal na vida. Por outras palavras, a moral desse conto baseia-se numa metáfora da vida interpretada como uma viagem.

O título simboliza também a mesma coisa, porque a viagem é um símbolo da busca de um certo objetivo, a procura de identidade e de encontrar a felicidade absoluta. Os protagonistas estão estereotipados, tendo um caráter geral: o homem e a mulher. Também, os leitores podem encontrar ao longo do conto certos deícticos temporais, a manhã, a tarde e a noite, cada um simbolizando metaforicamente as etapas da vida: o nascimento, a maturidade e a morte.

Ao mesmo tempo, os obstáculos que impedem os protagonistas de escolher o caminho ou que impedem as tentativas de regresso (o carro, a fonte, a casa, a estrada, o cavador, o lenhador) podem representar o fato de que, durante o nosso caminho na vida, perdemos as coisas, por isso voltamos antes de continuar e tentar encontrar novas maneiras de resolver os nossos problemas.

A afirmação da mulherÉ o meio da vida. mostra a ideia de um caminho já percorrido, um caminho ligado ao passado, e um caminho que têm de percorrer, significando o futuro. Na mesma maneira, todos as entidades que desapareceram podiam ser comparadas com as lembranças, porque o casal lembrava que as via e que estavam naqueles certos lugares, mas nunca podiam voltar ao passado.

Qual dos Contos Exemplares acima achas mais interessante? Deixa-nos um comentário.

 

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